Queda do voo 2216 da Jeju Air abala Coreia do Sul e expõe falhas na segurança aérea

Voo 2216 da Jeju Air: uma tragédia que ainda choca a Coreia do Sul
Faltavam poucos dias para o ano novo quando o voo 2216 da Jeju Air, um Boeing 737-800, se transformou na maior tragédia aérea da Coreia do Sul em mais de duas décadas. O acidente aconteceu na noite do dia 29 de dezembro de 2024, quando a aeronave tentava pousar com 181 pessoas a bordo no aeroporto internacional de Muan. Em segundos, o que seria um pouso comum virou um cenário de terror: o avião bateu no solo sem o trem de pouso, ultrapassou a pista, colidiu com uma barreira de concreto e foi consumido pelas chamas.
Dos 181 ocupantes, apenas duas pessoas sobreviveram. Entre as 179 vítimas estão quatro tripulantes e 175 passageiros, abrangendo famílias inteiras, turistas locais e oito estrangeiros. A dor tomou conta de parentes que se aglomeraram nos hospitais e no aeroporto em busca de notícias, enquanto o país parava diante das imagens do resgate e dos destroços carbonizados.

O que deu errado? Entenda as falhas e as dúvidas que cercam o desastre
Segundo o relatório inicial dos investigadores, o desastre começou quando a aeronave sofreu uma colisão com aves logo antes do pouso, danificando gravemente o motor direito. O plano padrão em situações como essa é desligar o motor afetado, mas a gravação na cabine mostra que, no calor do momento, houve confusão. O comandante pediu o desligamento do motor número dois (direito), porém dados do voo comprovam que foi o motor esquerdo, perfeitamente funcional, que acabou desligado. Sem a força dos dois motores, a tripulação perdeu totalmente o controle necessário para baixar o trem de pouso, preparar a aproximação e garantir a segurança dos passageiros.
A caixa-preta trouxe à tona um ambiente de pura tensão nos minutos que antecederam o impacto. O registro mostra ordens desencontradas e nervos à flor da pele – o tipo de situação em que o erro humano aparece, especialmente quando a pressão beira o insuportável. Para complicar ainda mais, os dispositivos de gravação de voo pararam de funcionar quatro minutos antes do acidente, deixando uma parte importante da investigação às escuras.
Peritos levaram os motores para análise na França e descartaram falhas mecânicas. Ao mesmo tempo, os especialistas trabalharam dia e noite para identificar as vítimas, já que o fogo comprometeu gravemente muitos dos corpos. Apenas com exames de DNA e impressões digitais foi possível encerrar o processo, que se estendeu até 5 de janeiro de 2025.
Apesar do laudo apontando erro dos pilotos, as famílias das vítimas têm cobrado respostas mais amplas. Grupos organizados têm protestado em Seul questionando por que fatores como possíveis falhas no design da pista de pouso, nos protocolos de emergência e até na resposta dos bombeiros não foram investigados a fundo. Eles não aceitam que a culpa recaia apenas sobre a tripulação em um cenário tão complexo.
O debate sobre responsabilidade não ficou restrito ao ambiente técnico. O acidente gerou uma onda de discussões sobre o que realmente acontece após grandes tragédias aéreas, desde a pressão sobre pilotos em situações críticas até a transparência dos processos de apuração. O Ministério dos Transportes prometeu rever políticas de segurança aérea e colocar em pauta novas medidas, mas a confiança do público ainda demora a se reerguer.
Em meio a homenagens, velórios conjuntos e promessas de mudança, o trauma segue exposto. O nome "Jeju Air 2216" virou sinônimo de dor nacional – e lembrete angustiante de que falhas humanas e sistêmicas, quando se somam, podem cobrar um preço alto demais.