Esperance de Tunis: por que o rival do Flamengo está no Mundial de Clubes 2025

Por que o Esperance está no Mundial de Clubes 2025
Não é todo dia que um clube da Tunísia cai no mesmo grupo de Chelsea e Flamengo em um Mundial com 32 times. O Esperance de Tunis está lá por mérito e constância. A FIFA mudou o formato: agora, além dos campeões continentais no ciclo 2021–2024, entram clubes que somaram mais pontos nesse período. O Esperance surfou nessa onda de desempenho estável na África, sem depender de um título isolado.
O time tunisiano foi finalista da última edição da Liga dos Campeões da CAF, perdendo para o Al Ahly. Essa campanha, somada a anos chegando longe em mata-mata continental, garantiu a vaga entre os quatro representantes africanos no torneio nos Estados Unidos. É a tal “via ranking” que premia consistência. E consistência é, de fato, a palavra que define o clube.
Em casa, o Esperance é um rolo compressor: carrega 33 títulos da liga, 15 Copas da Tunísia e quatro troféus da Liga dos Campeões da CAF no currículo. Em 2023/24, passou a fase regular da liga com 10 vitórias, 2 empates e nenhuma derrota; nos playoffs, somou 6 vitórias, 3 empates e apenas 1 revés. Essa base competitiva vira combustível quando o jogo fica apertado em torneios internacionais.
Não é estreia. Esta é a quarta participação do Esperance em um Mundial de Clubes (2011, 2018 e 2019 foram as outras). O melhor resultado veio em 2018, com o quinto lugar. E não é exagero dizer que o clube é peça histórica do continente: rankings tradicionais o colocam entre as camisas mais pesadas da África no século XX.
Quem comanda a equipe é Maher Kanzani, treinador de perfil pragmático. O desenho muda entre o 4-3-3 e o 4-2-3-1, com bloco médio, linhas compactas e muita disciplina na cobertura dos laterais. Bola parada é arma. Transição rápida pelos lados também. No elenco, a referência técnica atende por Belaili, jogador de último passe e chute de média distância, útil para destravar partidas em que o Esperance tem menos posse.
O contexto do torneio ajuda a explicar o desafio. O Mundial de Clubes 2025 tem 32 times, oito grupos de quatro, com dois classificados por grupo para as oitavas. É mais pesado fisicamente e mentalmente do que as versões curtas do passado. Quem não gerencia bem minutos, viagens e calor de verão norte-americano paga a conta nos detalhes.
Outro ponto pouco falado: adaptação. O Esperance sai de Túnis, enfrenta fuso horário, jogos em cidades distantes e gramados impecáveis que aceleram o ritmo. Para quem vem de campeonatos africanos, isso acelera o tempo de decisão, principalmente para zagueiros e volantes. Na prática, o primeiro jogo costuma ser o mais traiçoeiro.
O que esperar do Grupo D: Chelsea, Flamengo e LAFC
O sorteio não foi doce. No Grupo D, o Esperance encara o Chelsea (25 de junho), o Flamengo e o LAFC. São três escolas diferentes: o físico e a rotação europeia do Chelsea, o repertório técnico do Flamengo e a intensidade vertical da MLS com o LAFC. É pedreira? É. Mas existe um roteiro competitivo para o Esperance sobreviver.
Contra o Chelsea, o abismo financeiro é real. O time inglês empilha talento e joga em alta rotação. O atalho do Esperance passa por controlar a área, fechar os corredores de passe entrelinhas e agredir a saída de bola apenas com gatilhos claros (passe para o lateral pressionado, bola recuada ao goleiro, domínio de costas do meia). Qualquer pressão fora de hora abre espaço para aceleração e tabela curta na entrada da área. Bola aérea defensiva precisa estar impecável.
Diante do Flamengo, a conversa é outra. O time brasileiro costuma ter mais posse, circula a bola de um lado para o outro e busca cruzamentos e infiltrações. Para o Esperance, o jogo pede paciência para cortar linhas de passe em diagonal e, quando roubar a bola, acelerar nos lados, atacando as costas dos laterais no 1 contra 1. Faltas ofensivas próximas à área valem ouro por causa da batida de média distância de Belaili. Controle emocional também conta: torcida do Flamengo lota estádio nos EUA e empurra pressão desde o primeiro minuto.
Com o LAFC, o duelo tende a ser mais físico, com transições de área a área. A chave é não entrar em correria pura. O Esperance se dá bem quando baixa o ritmo do rival, trava o primeiro passe e força o LAFC a girar a bola sem progressão. Recuperar a posse e sair rápido, sim, mas com três toques bem dados, não com lançamentos longos que devolvem a bola de graça.
No detalhe tático, três fatores decidem a vida do Esperance no grupo:
- Primeiros 15 minutos: sem tomar gol cedo. O plano cai por terra quando o favoritismo do rival ganha placar.
- Bolas paradas: atacar o primeiro pau em escanteios e proteger o segundo pau na defesa. É onde o azarão equilibra forças.
- Eficiência: uma chance clara por tempo só vale se virar gol. O Esperance não vai produzir 20 finalizações contra Chelsea ou Flamengo.
O calendário também pesa. Abrir contra o Chelsea muda o sarrafo físico logo de cara, mas pode ter um lado bom: obriga o time a entrar em modo máximo desde o minuto 1. Se sair com um empate, o cenário da chave vira outro. Na sequência, a partida com Flamengo tende a ser a decisiva pela segunda vaga, com o LAFC como jogo de sobrevivência ou confirmação.
Vale lembrar: o regulamento de grupos costuma usar pontos, saldo de gols e gols marcados como desempate. Em um grupo desse tamanho, administrar o 1 a 0 e não se expor em busca de um 2 a 0 pode ser a diferença entre avançar e voltar para casa. Cinismo competitivo é virtude, não defeito.
Fora de campo, o Mundial rende visibilidade e dinheiro. A participação garante receita que alivia caixa, melhora a vitrine para vendas e amplia a base de torcedores fora da África. Para um clube que já lota o Stade Hammadi Agrebi, em Radès, essa exposição global é combustível para a próxima década.
Azarão? Sim. Sem chance? Longe disso. O Esperance não vence pela cartilha do brilho individual, e sim pela soma de organização, tempo de bola e frieza. Em grupos com gigantes, quem respeita o próprio plano e não se apavora costuma chegar vivo ao mata-mata. Esse é o jogo do clube tunisiano no Mundial de Clubes 2025.