Guterres condena tiroteio antissemita em Bondi: 16 mortos em celebração de Hanukkah na Austrália
Na noite de domingo, 14 de dezembro de 2025, enquanto famílias judeus celebravam a luz de Hanukkah na areia quente de Bondi Beach, em Sydney, um pesadelo se desenrolou. Dois homens armados abriram fogo contra a multidão — crianças, idosos, pais abraçando filhos, todos reunidos para lembrar a vitória da luz sobre a escuridão. Ao fim do ataque, 16 pessoas estavam mortas, entre elas uma criança de 10 anos. Quarenta e dois ficaram feridos. O que começou como uma celebração de esperança se tornou o pior ataque antissemita da história da Austrália.
Um ataque planejado contra a luz
O tiroteio começou por volta das 18h, horário local, quando os dois atiradores — um homem de 50 anos e seu filho de 24, ambos cidadãos australianos — chegaram à praia com armas de fogo de alto poder. Testemunhas relatam que eles não hesitaram. Caminharam diretamente para o centro da celebração, onde crianças acendiam velas, adultos cantavam orações em hebraico e grupos de jovens dançavam ao som de músicas tradicionais. Sem aviso, dispararam. A multidão correu. Alguns se jogaram na areia. Outros tentaram proteger os mais velhos. A polícia chegou em menos de sete minutos, mas já era tarde para muitos.Um dos atiradores foi abatido no local. O outro, gravemente ferido, foi levado em estado crítico para o hospital de Sydney. A polícia confirmou que os dois tinham motivação antissemita clara. Nenhum vínculo com organizações terroristas internacionais foi encontrado até o momento — mas os investigadores encontraram em sua casa um arsenal de livros extremistas, vídeos de ódio contra judeus e anotações sobre o simbolismo de Hanukkah, que eles chamavam de "um festival de arrogância".
Reações globais: da ONU à Casa Branca
Na manhã de segunda-feira, 15 de dezembro, o António Manuel de Oliveira Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, emitiu uma declaração rara e enfática. "Condeno o antissemitismo em todas as suas formas", disse ele, em seu escritório na ONU em Nova York. "Ataques a comunidades religiosas em momentos de paz e devoção violam os princípios mais básicos da humanidade. Nossas orações estão com as famílias das vítimas e com a comunidade judaica da Austrália e do mundo inteiro."Do outro lado do mundo, o presidente dos Estados Unidos, Donald John Trump, também falou. "Foi um ato de ódio puro e antissemita", afirmou da Casa Branca. "Entre os mortos, há cidadãos americanos. Nossos corações estão com a Austrália."
O alto representante da Aliança das Civilizações da ONU, Miguel Ángel Moratinos, postou em redes sociais: "Estou horrorizado. Não se celebra a luz com balas. Isso não é política. É barbárie."
Um ferimento profundo na comunidade judaica australiana
A comunidade judaica na Austrália existe desde 1788 — os primeiros judeus chegaram como prisioneiros na Primeira Frota. Hoje, são cerca de 120 mil pessoas, com forte presença em Sydney, Melbourne e Brisbane. O evento em Bondi era um dos maiores da temporada: centenas de pessoas, incluindo famílias de origem israelense, americana e sul-africana. Muitos tinham trazido os filhos pela primeira vez para ver as velas de Hanukkah acesas na praia, um símbolo de resistência e identidade."Isso não é só um ataque à nossa fé", disse Rachel Cohen, 68, sobrevivente do tiroteio, em entrevista à rádio ABC. "É um ataque à nossa capacidade de existir em público sem medo. Nós não estamos pedindo proteção. Estamos pedindo que o mundo não ignore isso."
As autoridades australianas, lideradas pelo Departamento de Polícia de Nova Gales do Sul, estão investigando se os atiradores tinham contato com redes online de ódio ou se agiram isoladamente. O filho, ainda inconsciente, não foi interrogado. Mas os investigadores encontraram em seu celular mensagens de 2024 em que ele escreveu: "Hanukkah é uma mentira. Eles não merecem luz."
O que isso muda na Austrália?
Este é o maior ataque antissemita registrado no país desde o massacre de 1999 em um centro comunitário em Melbourne. Mas a diferença aqui é o local: Bondi Beach. Um símbolo da cultura australiana aberta, laica, praias cheias de turistas, surfistas, famílias. O fato de o ataque ter acontecido ali, em plena luz do dia, durante uma celebração pública, é um choque cultural profundo.As escolas judaicas já anunciaram reforço de segurança. Sinagogas em toda a Austrália estão aumentando a vigilância. Mas o mais preocupante é o clima de medo. Jovens judeus estão deixando de usar quipás em público. Famílias estão adiando viagens. O sentimento é de que, mesmo em um país considerado seguro, o ódio não escolhe fronteiras.
O que vem a seguir?
Nesta semana, a Austrália deve anunciar um plano nacional de combate ao antissemitismo, com foco em educação escolar, monitoramento de redes sociais e apoio psicológico às vítimas. A ONU está pressionando por uma resolução de emergência no Conselho de Direitos Humanos. Enquanto isso, o enterro das vítimas segue em silêncio. Uma criança de 10 anos foi enterrada com uma vela de Hanukkah em sua mão. Outros foram sepultados com pequenos candelabros de metal — o menorá, símbolo da festa que os matou.As investigações continuam. Mas uma coisa já é certa: o mundo não pode mais fingir que o antissemitismo é um problema do passado. Ele está aqui. E ele atira em crianças na praia.
Frequently Asked Questions
Como a comunidade judaica da Austrália está respondendo ao ataque?
A comunidade judaica está em luto, mas também em resistência. Sinagogas em Sydney e Melbourne organizaram vigílias de luz, onde pessoas de todas as religiões acenderam velas em memória das vítimas. Grupos como a Comunidade Judaica da Austrália anunciaram um programa de "Amigos da Luz" — não-judeus que se voluntariam para escoltar famílias em eventos públicos. O sentimento é de que o ódio não vencerá, mas o trauma será profundo e duradouro.
Por que o local do ataque, Bondi Beach, é tão significativo?
Bondi Beach é um ícone da identidade australiana: praias abertas, diversidade, liberdade. Celebrar Hanukkah ali era um ato de pertencimento — mostrar que judeus também são australianos. O fato de o ataque ter acontecido nesse espaço simbólico foi intencional: os atiradores queriam dizer que "não há lugar para vocês aqui". Mas a resposta da população foi unânime: a praia voltou a ser um lugar de luz, não de medo.
Há precedentes desse tipo de ataque na Austrália?
Sim. Em 1999, um atirador atacou um centro comunitário judeu em Melbourne, matando dois e ferindo outros quatro. Mas nenhum ataque desde então teve esse nível de letalidade ou visibilidade. O que torna este caso único é o contexto: uma celebração pública, em pleno verão, com crianças presentes, e o uso de armas de guerra. É um novo patamar de violência.
O que está sendo feito para prevenir novos ataques?
O governo australiano já anunciou o aumento de 40% no orçamento para segurança de locais religiosos em 2026. Além disso, a polícia está implementando um sistema de alerta rápido para eventos comunitários, com patrulhas armadas e câmeras de vigilância em tempo real. Mas especialistas alertam: a prevenção precisa ir além da segurança física — precisa combater o ódio nas escolas e nas redes sociais.
Por que a ONU e os EUA reagiram tão rapidamente?
Porque este ataque toca em um ponto global: o aumento do antissemitismo em todo o mundo. Em 2024, a Europa registrou o maior número de ataques antissemitas em 15 anos. Os EUA e a ONU veem isso como um sinal de alerta. A presença de cidadãos americanos entre as vítimas também obrigou uma resposta imediata. Mas o verdadeiro motivo é moral: quando uma celebração de paz é violentada, o mundo inteiro é atingido.
Qual é o significado de Hanukkah e por que ele é alvo de ódio?
Hanukkah, ou Festival das Luzes, comemora a vitória de um pequeno grupo de judeus contra a opressão religiosa, há mais de 2.200 anos. A história central é a de uma vela que queimou por oito dias com óleo suficiente apenas para um. É sobre resistência, fé e esperança. Para extremistas, esse símbolo representa justamente o que eles querem destruir: a persistência da identidade judaica. Por isso, atacar Hanukkah é atacar a própria ideia de que minorias têm direito à existência.
Bruna Cristina Frederico
Isso é um pesadelo que ninguém deveria viver. Minha avó era judia e sempre me ensinou que a luz não se apaga com balas. Essas famílias estavam celebrando a esperança - e o ódio respondeu com sangue. Não podemos ficar calados. Precisamos de ações reais, não só mensagens de condolência.
Se cada pessoa que lê isso fizer algo - mesmo que seja só apoiar uma causa judaica local - já é um começo. Ainda dá tempo de mudar isso.